Condições para o nascimento da filosofia ocidental

COMEÇANDO A FILOSOFIA OCIDENTAL PELO COMEÇO

UMA VISÃO GERAL DAS CONDIÇÕES PARA O NASCIMENTO DA FILOSOFIA OCIDENTAL

Tudo começa pela mitologia grega (Mas não necessariamente com os deuses)

Parece óbvio que, pelo fato da filosofia ocidental ter sua origem na Grécia, precisamos estudar toda a mitologia daquela região/época.

Mas, calma, não é para ficar estudando os deuses, suas histórias, intrigas, que deus fulano é o deus de tal coisa, das sagas narradas pelo Homero e companhia.

Tudo isso é muito interessante, mas não é fundamental para compreender o papel da mitologia grega na origem da filosofia. Claro, estudar os detalhes da mitologia é um estudo paralelo que você pode fazer (confesso que nós, aqui no Filosofares, gostamos bastante dessa parte, porque é tipo novela: as traições de Zeus, o Cavalo de Troia, o mother issue do Édipo…).

Mas… o que permeava o “pensamento” e o “imaginário” (entre aspas porque nesse contexto ainda não havia essas expressões) dos gregos quando se começaram as primeiras formulações filosóficas de que temos notícia?

Musas

Como era a cabeça do pessoal

O que rolava era o seguinte:

Assim como em toda cultura, havia a necessidade de explicação sobre a origem e a forma das coisas, suas funções e finalidade, os poderes do divino sobre a natureza e os homens. Com isso, surgiu a mitologia, que tinha, basicamente, três funções:

EXPLICAR o mundo, os fenômenos da natureza, o destino, eventos passados, atitudes…

ORGANIZAR a vida pública, as relações orientar ações morais, apresentar modelos

COMPENSAR perdas, desvantagens, diferenças, ansiedades, angústias

Temos aqui um texto sobre o pensamento mítico que o Prof. Ms. Bruno Neppo preparou para ajudar um pouco mais nessa parte.

Hades

Nem só de mitologia vivia o homem

Aconteceu com os gregos igual o que acontece com a gente:

Vamos ficando mais velhos e ampliando nossos horizontes, descobrindo que nossos pais contaram um monte de mentira para amansar a gente (e amamos eles por isso, porque aprendemos e acabamos reproduzindo de uma forma ou de outra, ou inventando moda para negar, mas a gente acaba recorrendo ao Papai Noel, por exemplo, quando nos é conveniente hehe).

É bem assim com a passagem da narrativa alegórica (mito) para a racional (logos), para o pensamento lógico. Isso significa uma nova organização mental, mais racional e, com ela, uma nova via para explicar a realidade. 

Bom, a realidade já estava sendo explicada pela mitologia, certo? Certo.

Mas agora ela passa a ser explicada também pela via racional, principalmente:

  • pela abstração;
  • pela desmistificação da realidade;
  • pela naturalização dos fatos;
  • pelo contato com outras culturas (sobretudo a egípcia, onde já havia uma “matematização” da realidade).

E, é claro, essa nova forma de explicar o mundo foi sendo introduzida beeem aos poucos, aqui e ali.

O importante é que grandes filósofos, como os pré-socráticos e até Platão depois deles, criaram mitos próprios para dizerem das suas teorias. 

Isso quer dizer que a Filosofia não nasceu abandonando a mitologia. Na verdade, ela nasceu da mitologia e, às vezes, se utiliza dela para uma explicação mais racional da realidade.

Veja também: comparativo entre Cosmogonia e Cosmologia
FILÓSOFOS

A polis, casa da filosofia grega

As características da polis, que são específicas do contexto grego, compõem algumas das condições mais importantes para o nascimento da Filosofia Ocidental.

Vamos começar com o “lugar de fala” daqueles homens que propuseram as questões que deram start em tudo o que veio depois na nossa disciplina querida.

Esses homens eram os cidadãos: nascidos e criados na polis. Bem organizados, conscientes dos seus papéis, tinham tudo sob controle. Aqueles que não eram treinados para o combate, ficavam por conta de trocar ideia na Ágora sobre política, economia, fofoca, flerte…

Lembrando que mulheres, crianças, escravos e estrangeiros não eram considerados cidadãos, apenas trabalhavam para os bonitos de papo na praça.

E por que essa praça, a Ágora, era um lugar importante? Porque:

  • funcionava como centro econômico e político, ela proporcionou o debate, a organização lógica das ideias e a criação de leis escritas;
  • era onde a razão regia as relações comerciais, a organização e divisão do trabalho.

Nesses bate-papos na Ágora, todo cidadão podia expor sua opinião, e as discussões valorizavam o humano, o pensamento, a persuasão e a decisão racional.

Isso quer dizer que se valorizou o pensamento racional, criando condições para que surgisse o discurso ou a palavra filosófica.

Ágora
Francisco Barbosa
Francisco Barbosa
Escritor, editor e bacharel em Cinema e Audiovisual, é pesquisador e redator da Newsletter Filosofares.

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