OS AMORES DE PLATÃO E ARISTÓTELES

OS AMORES DE PLATÃO E ARISTÓTELES

O que cada um desses filósofos pensava sobre o amor

Platão e Aristóteles são dois dos filósofos mais influentes da história antiga da filosofia (quiçá da filosofia como um todo!). Certo. Mas, apesar de ambos terem uma base única de pensamento — a Academia Platônica —, e do primeiro ter sido o mestre do segundo, as suas filosofias são profundamente divergentes em muitos aspectos, incluindo a concepção do amor:

  • Idealista, Platão via o amor como uma busca constante por algo divino e perfeito. Já Aristóteles, mais voltado para materialidade, via o amor como uma parte natural da vida humana, encarnada em nossas relações.
  • Para Platão, o amor é a busca pelo bem supremo e pela união com a forma de beleza. Para Aristóteles, o amor é uma emoção complexa que pode ser experimentada e cultivada de diferentes formas.

Amor em Platão

O amor em Platão

“O amor é uma força divina que nos leva a um estado de contemplação das ideias.” (O banquete)

O texto mais famoso de Platão sobre o amor é o “Simpósio” — ou “O banquete”, como ficou mais conhecido — escrito por volta de 385 a.C. Trata-se de um diálogo que mostra Sócrates chegando a uma comemoração na casa do poeta Agatão por ocasião de sua vitória num concurso de poesia em honra ao deus Dionísio.

No decorrer da noite, cada convidado apresenta a sua concepção do amor, inclusive vários personagens importantes da Grécia antiga, como o poeta Safo e o rei Diotima. E, assim, a conversa se desenvolve centrada na natureza do amor, a sua origem e o seu propósito na vida humana.

Platão usa este formato de diálogo para explorar as diferentes visões do tema na sociedade grega antiga, e para apresentar a sua própria teoria sobre o amor.

No fim, o Sócrates de Platão retrata o amor como:

  • uma força divina e superior que eleva o indivíduo a um estado de contemplação das ideias;
  • uma busca pela beleza — e, consequentemente, pela perfeição — que pode ser encontrada em várias formas, como na beleza do corpo, na beleza da alma e na beleza das ideias. Porém é na sabedoria que ela é encontrada de forma completa.

Por isso, a melhor atividade do ser humano é a filosofia, pois ela é a melhor forma de conhecer a verdade e a realidade.

O “Fédon” é outro diálogo em que Platão argumenta sobre o amor, também a partir das falas de seu personagem Sócrates. Num geral, o texto é sobre a natureza da alma e a imortalidade. Nessa perspectiva, o amor é retratado como uma força divina que nos alimenta o anseio por algo belo e perfeito. Em outras palavras, o amor é o desejo de possuir a perfeição e a imortalidade: amamos porque queremos ser melhores e porque não queremos nos findar; porque queremos permanecer, sermos eternos com a perfeição divina.

No diálogo, Sócrates argumenta que o amor é uma fonte de inspiração e de crescimento para o indivíduo, o ajudando a se tornar uma pessoa melhor e a encontrar a verdade. Além disso, o filósofo defende que a busca pelo belo e pelo perfeito é um caminho para a sabedoria e a felicidade. Ele acredita que o amor é uma força motivadora importante nesse caminho.

As metáforas de Platão sobre o amor

As metáforas de Platão sobre o amor

Uma das metáforas mais famosas de Platão sobre o amor é a “caminhada das almas”. Nessa metáfora, Platão compara a jornada da alma humana à busca pelo amor. Para ele, todos nós começamos nossa jornada como seres humanos buscando a beleza no mundo material, mas em algum momento descobrimos que a verdadeira beleza está nas ideias e nas coisas imateriais, assim como o amor.

Outra metáfora importante de Platão sobre o amor é a “casa do amor”. Nela, Platão argumenta que a casa do amor é uma espécie de templo onde as pessoas podem encontrar o amor verdadeiro e contemplar as ideias: nessa casa há luz o suficiente para que se veja melhor as coisas verdadeiras.

Em resumo, Platão defende que o amor é, ao mesmo tempo, a força que nos impulsiona a subir cada vez mais alto na nossa busca pela verdade e pela sabedoria, além de ser a luz que ilumina o caminho e nos guia nessa jornada.

Amor em Aristóteles

O amor em Aristóteles

“O amor é a amizade vivida em intensidade.” (Ética a Nicômaco)

Aristóteles introduz e desenvolve o tema do amor em sua obra “Ética a Nicômaco”, escrita por volta de 340 a.C. Ali, o filósofo desloca o tema de onde seu mestre o havia posto e o aborda como um dos temas principais da moral e da filosofia prática.

Para ele, o amor é uma emoção complexa, que envolve a descoberta e o apreço da beleza, da virtude e da perfeição, sim, mas no contato com outra pessoa. Isso mostra como sua abordagem é mais voltada para um amor que está nas relações e não nas idealizações.

Somado a isso, Aristóteles argumenta que o amor, apesar de ser uma emoção, pode e deve ser desenvolvido e cultivado ao longo da vida como uma prática racional, pois é uma parte importante da busca pela virtude e pela felicidade.

Mas, para o filósofo, nem todo amor é igual.

Os tipos de amor para Aristóteles

Os tipos de amor para Aristóteles

Na filosofia de Aristóteles, existem três tipos de amor: a philia, o éros e a storgê.

Amor philia

A philia é o amor de amizade, que é descrito por Aristóteles como um amor baseado em virtudes compartilhadas e no desejo de ver o bem do outro — ele defende que a amizade verdadeira e duradoura é baseada na virtude. Mas com uma ressalva: se esse amigo não for recíproco no amor, ele não é virtuoso e, portanto, não é um amigo de verdade, pois amizade precisa de reciprocidade. Ou seja, a philia é uma forma de amor que busca o bem do outro com confiança e respeito mútuos.

Amor éros

O éros é o amor romântico, que é descrito por Aristóteles como uma forma de amor baseada na atração física e emocional, geralmente causada pela beleza do corpo. No éros, o que se busca é a união com o objeto de amor.

Amor storgê

A storgê é o amor familiar, que é descrito por Aristóteles como um amor baseado na relação de parentesco. Em “Política”, Aristóteles escreve que o amor familiar é o mais antigo e mais natural dos amores, porque todos nós nascemos com a necessidade de cuidar uns dos outros. Ou seja, a storgê é uma forma de amor que busca o bem dos membros da família, mas não depende, necessariamente, da reciprocidade, como no caso do amor philia.


Diante dessas diversas possibilidades de se viver o amor, a amizade é a mais perfeita e elevada delas, porque está baseada em reciprocidade e mutualidade: duas pessoas se ajudam a alcançar seus objetivos e valores, e cada um tenta completar o que falta no outro; envolve uma profunda conexão com a outra pessoa numa troca de virtudes e valores morais. Para Aristóteles, este tipo de amor é fundamental para alcançar a felicidade e a realização pessoal, e é uma fonte inesgotável de prazer e bem-estar.

Mas… Qual é o melhor e verdadeiro amor?

Mas… Qual é o melhor e verdadeiro amor

Platão provavelmente responderia que é o ideal. Para ele, apesar de o  amor verdadeiro poder ser vivido nesta vida, ele só o é, porque pode ser experimentado como busca. De acordo com o filósofo, é a busca pelo bem supremo e pela união com a forma de beleza — que nunca seria completamente alcançada — que dá sentido à nossa vida.

Aristóteles, por outro lado, provavelmente responderia que é o amor real. Para ele, o amor é uma parte natural da vida humana e, apesar de existirem diferentes tipos de amor, ele só pode ser vivido e experimentado nesta vida e na sociedade.

E para você? Qual o melhor e verdadeiro amor? Concorda mais com Platão ou com Aristóteles? Deixe aqui nos comentários!

Prof. Ms. Bruno Neppo
Prof. Ms. Bruno Neppo
Bruno Neppo é Doutorando e Mestre em Estética e Filosofia da Arte pela Universidade Federal de Ouro Preto, é professor há mais de 10 anos e seus vídeos no canal Filosofares do YouTube somam mais de 800 mil visualizações. Bruno também é autor do livro "Nietzsche e a Gargalhada Dionisíaca" disponível nas principais plataformas do Brasil.

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