Pré-socráticos e sofistas: os primeiros da fila e os fura-fila - Garoto no meio de uma fila em um corredor, espreita o início da longa fila

OS PRIMEIROS DA FILA E OS “FURA-FILA”

UM PANORAMA SOBRE OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS E OS CHAMADOS SOFISTAS

Pré-socráticos e sofistas: os primeiros da fila e os fura-fila - Cena do desenho Capitão Planeta

Os primeiros da fila

Então, para começar, vamos entender esses caras que vieram antes de Sócrates.

Basicamente, cada pré-socrático defendia um dos 4 elementos da natureza (mais ou menos).

Lembra que, com a passagem do mito ao logos, o pessoal começou a desenvolver um pensamento mais abstrato? Que o que estava errado não podia estar certo com a abordagem sobre os deuses e as explicações sobre como tudo surgiu?

Foi nessa brecha que os filósofos pré-socráticos ativaram o modo curioso para encontrar respostas alternativas.

Então, eles se apegaram a algum elemento da natureza para tentar encontrar a explicação para a origem das coisas (de todas as coisas). 

Terra, água, fogo e ar são os mais famosos. Mas também teve aquele que defendia os números, outros vieram com sementes, e outro ainda veio com uma palavra abstrata, o ápeiron.

»» O importante é que todo o raciocínio desenvolvido por eles, por mais rudimentar que fosse, é a base para tudo o que veio depois, não só para a filosofia, mas para praticamente todas as disciplinas que conhecemos hoje.

E para fechar arrasando essa introdução, você pode assistir a esta live que o professor Bruno Neppo fez há um tempo e está salva lá no nosso canal do YouTube. Nela ele explica justamente essa parte introdutória e ainda responde a dúvidas (que podem ser as suas também).

Agora, uma coisa nada a ver, mas que tem a ver. Quero compartilhar com você esta playlist que criamos no Spotify com as músicas que gostamos de escutar enquanto estudamos. Talvez seja legal para você também enquanto estuda os Pré-Socráticos 🙂

A seguir, vamos conhecer quatro dos filósofos pré-socráticos mais importantes: Tales que cismou com a água e é considerado pela “tradição” filosófica, aquele que deu origem ao que chamamos hoje de filosofia propriamente dita; Anaximandro que veio com essa ideia de ápeiron; Anaxímenes que enfiou na cabeça que o ar era a resposta; e Pitágoras (sim, o dos números).

Quem será que chegou mais perto da resposta certa? Não sei se vamos descobrir, mas sei que se bobear, misturando tudo, deve sair ou as Meninas Super Poderosas, ou o Capitão Planeta.

Que comecem as apresentações oficiais…

Aperto de mão esquisito entre Barack Obama, Enrique Peña Nieto e Justin Trudeau

O clubinho de Mileto (mais ou menos)

Tales foi mestre de Anaximandro que foi mestre de Anaxímenes que não tem muita relação com Pitágoras que nem era de Mileto.

Mas todos os quatro, a partir de seus próprios raciocínios e lógica, desenvolveram explicações para a origem das coisas. Cada um, designou um elemento diferente como princípio de tudo (arché).

Sendo que os três de Mileto tentaram um superar o outro com elementos que seriam “físicos” (água, ápeiron, ar), e Pitágoras foi para uma abordagem diferente, designando um “não-físico”, o número.

Uma dica: não pense nos termos “água”, “ar” e “número”, com as mesmas conotações que usamos no nosso dia a dia. Eles apenas representam esses elementos primordiais que cada um dos pré-socráticos definiu para explicar suas teorias. Por exemplo, a água está mais próxima de uma ideia de “umidade” do que de H2O.

»» O importante é que mesmo de maneira rudimentar e apenas pela observação, esses filósofos revolucionaram a maneira de entender a realidade para o pensamento do Ocidente.

Agora é a vez de sermos apresentados a uma turma boa: Vamos conhecer as explicações de outros 5 filósofos: Demócrito e Anaxágoras, que falaram de sementes infinitas; Empédocles, que fez um combo com terra, água, fogo e ar; Xenófanes e Zenão, que vieram com uma ideia de “ser”.

Alguns deles chegaram a falar até de átomos! Você já sabe quais?

Seu Madruga, do seriado Chaves

Cada um de um lugar

(mais ou menos), porque, mesmo cada um sendo de um canto, eles têm relações entre si:

Xenófanes e Zenão são monistas (atribuíam a arché a apenas um elemento-princípio, no caso deles, o “ser”), enquanto Empédocles, Anaxágoras e Demócrito são pluralistas (que atribuem o princípio originário a mais de um elemento, que para cada um era um conjunto diferente de elementos).

Zenão, discípulo de Parmênides (que vamos conhecer mais adiante), faz parte da escola de Eleia, Xenófanes não pertence a essa escola, mas era um andante e, em algum momento, passou por ali.

Já os pluralistas, apesar de considerarem elementos diferentes, todos se preocuparam em “superar” os eleatas (da escola de Eleia do Zenão), afirmando que essa história de “ser” não fazia sentido, mesmo ainda estando dentro do escopo da filosofia da physis (natureza).

»» O importante é que cada um deles acabou dando um passo adiante, o desenvolvimento da “lógica” que usaram para explicar a origem do cosmos foi fundamental para os próximos filósofos que viriam depois deles.

[Inclusive, (SPOILER ALERT!) permitindo que as questões passassem do cosmos para o homem, como vamos ver em outros textos no futuro.]

Para complementar, veja esses dois vídeos do nosso canal no YouTube: Um sobre a teologia de Xenófanes e outro sobre os 4 elementos de Empédocles.

Agora sim, ainda conhecendo os principais pré-socráticos, vamos entender o pensamento de Heráclito e o de Parmênides.

Qual a treta que eles arrumaram para ficarem famosos como “os principais rivais” da História da Filosofia Antiga?

Essa é a batalha mais aguardada da Grécia Antiga (não, não estamos falando da guerra de Troia).

Dois gatinhos filhotes brincando de lutinha em um ring de brinquedo

Ser ou não-ser, eis a questão (mais ou menos)

Enquanto Heráclito insistia no fluir de não-ser para ser e vice-versa, Parmênides dizia que isso era um absurdo, porque para ele, o não-ser nem existe.

E assim, dá-se uma das “rixas” mais famosas da História da Filosofia. 

Claro, Heráclito veio antes de Parmênides, então não houve um embate diretamente entre eles. Mas, como as teorias do primeiro ficaram famosas, o que veio depois só pensava em superar. E a briga gira em torno, principalmente, de:

Primeiro: Heráclito diz que tudo é fluxo, ou seja, tudo está sempre mudando. Para ele, não existe um “ser” fixo, apenas um “vir a ser”, como uma onda gigante que nunca para de se movimentar. Já Parmênides acredita que o “ser” é imutável e eterno, como um tijolo na parede, enquanto o “não-ser” é inexistente e irreal.

Segundo: Heráclito diz que não podemos entrar no mesmo rio duas vezes, porque a água está sempre mudando, e o ser humano é como um jogador de RPG que sempre se adapta às mudanças do jogo. Parmênides diz que o rio não existe, porque ele é uma ilusão dos nossos sentidos, e que o ser humano é como um personagem de um filme de terror que nunca se move do lugar, só observa tudo que acontece à sua volta.

Inclusive, Parmênides é um dos fundadores da Escola de Eleia (lembra dela ali de cima?) e foi mestre de Zenão.

»» O importante é que nessa batalha teórica, Heráclito e Parmênides traçaram um novo rumo para o pensamento filosófico. A cada “avanço” que a razão faz para explicar a realidade, podemos ampliar nossas percepções e analisar de maneira mais crítica a realidade.

E agora, essa outra galera, os “fura-fila”: vamos conhecer aquela turma famosa pela lábia, pelo sangue no olho durante debates na Ágora e que ainda cobravam uma graninha para ensinarem a arte da retórica: os sofistas.

Para fechar esse texto, vamos conhecer uma turma que se auto intitulavam “sábios”, “mestres da retórica e da virtude”.

Armando Volta, personagem da Escolinha do Professor Raimundo

Pagando bem, que mal tem? (mais ou menos)

Os sofistas circulavam pelas cidades com seus discursos acalorados afirmando serem capazes de refutar qualquer argumento, sobre qualquer tema (mas principalmente temas políticos).

E viviam dos dinheiros que cobravam para “ensinar” a arte da retórica, que nada mais era do que ter a manha de tornar o argumento mais fraco no mais forte e vice-versa, só para deixar o adversário do debate no chão.

Não importava se o argumento que eles formulavam trazia premissas verdadeiras, desde que fizessem sentido interno e deixasse todo mundo sem ter o que falar.

Convencer, eles não convenciam, mas davam um show e venciam no debate.

Eles também afirmavam que, para o homem se tornar sábio e virtuoso, bastava praticar a virtude através da retórica, assim como se pratica atividades físicas para a saúde do corpo.

E tinha sofista na época dos pré-socráticos, e também contemporâneos de Sócrates, de Platão, Aristóteles, e até bem mais depois deles.

»» O importante é que mesmo não sendo considerados filósofos pela tradição, foram principalmente eles que primeiro desafiaram a ideia de que a sabedoria vinha dos deuses. E com isso, criticavam a moral, o conhecimento e a religião.

Mas agora me conta aqui: você acha que os sofistas eram filósofos ou não? Outra coisa, você acha que existam “sofistas” hoje em dia?

Bem, pelo menos agora você já tem uma noção sobre toda essa gente (pré-socráticos e sofistas) que veio antes dos famosões da história da filosofia ocidental, mas não menos importantes que eles. Afinal, você não quer ser um poser da filosofia e só catar umas referências aqui e acolá sobre esses famigerados sujeitos que geral insiste em dizer que moldaram a forma com que pensamos hoje.

Até a próxima!

Francisco Barbosa
Francisco Barbosa
Escritor, editor e bacharel em Cinema e Audiovisual, é pesquisador e redator da Newsletter Filosofares.

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